28 fevereiro, 2006

Quadro: O Grito (Edvard Munch)
Eu era rígido e frio, eu era uma ponte; estendido sobre um precipício eu estava. Aquém estavam as pontas dos pés, além, as mãos, encravadas; no lôdo quebradiço mordi, firmando-me. As pontas da minha casaca ondeavam aos meus lados. No fundo rumorejava o gelado arroio das trutas. Nenhum turista se extraviava até estas alturas intransitáveis, a ponte não figurava ainda nos
mapas. Assim jazia eu e esperava; devia esperar. Nenhuma ponte que tenha sido construída alguma vez, pode deixar de ser ponte sem destruir-me. Foi certa vez, para o entardecer – se foi o primeiro, se foi o milésimo, não o sei – meus pensamentos andavam sempre confusos, giravam, sempre em círculo.
(Franz Kafka)

2 Comments:

Blogger Ly said...

Temos algo em comum, eu e o Kafka. Leu A Metamorfose?

5/3/06 14:29  
Anonymous Anônimo said...

Bárbaro!
Amo de montão Franz Kafka, Miguxo.
O blog tá show.
xau amiguim. asuhaushaush!!!

20/5/06 01:38  

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